ESCRAVO DA VIDA

Sou a rocha fincada em alto mar

Sou o tronco de casca secular

Sou o vento que sopra ao luar

Sou a voz de quem chora no calar

Sou aquele que espera sem saber

Nem o dia nem a hora do chegar

Nem quem vem e de qual é o lugar

O que traz ou o que deseja achar

Os meus olhos são faróis no anoitecer

Sempre atentos ao que pode acontecer

Minha lágrima é o óleo que ao pingar

Gira a luz, faz qualquer nau se encontrar

A solidão deste meu posto faz doer

Pois eu sinto que não posso merecer

Alguém que fique ao meu lado sem sofrer

Que me toque o coração, me saiba amar

Mas como escravo tenho que obedecer

Que importa para a Vida meu querer?

Que desejo em noite fria me aquecer?

Que do amor que tanto sei um dia ter?