SOLIDÃO
Fui dormir. Estava triste. Sozinho no quarto. A cama vazia. Olhei na janela. A rua chiava. O horizonte piscava. Tudo com todos. Eu sem ninguém.
Chorei. Minhas lágrimas caiam. Ninguém as via. Sem compaixão. Chorei mais ainda. Pranto convulso. Algo chegou. Não via ou ouvia. Mas sei que havia.
Era a morte? Raiva? Ira? Compaixão? Desprezo? Medo? Saudade? Razão? Loucura? Demônio? Anjo? Achei... Solidão!
Senhora vetusta. Imponente. Fria. Dura. Penetrante. Medonha. Arrepiante. Paralisante. Angustiante. Falou comigo...
Tolo mortal. Choras... choras... choras... Eu não me importo. Sou a solidão. Senhora do mundo. Rainha das dores. Mãe do Criador.
Ele existiu. Eu O pari. Comigo ficou. Eternidade. Criava... Criava... Nada O contentava. Criava... Criava... Bolas de fogo. Leite de estrelas. Homem do barro.
Verme pequeno. Homem de barro. Sou tua avó. Gerei o teu pai. Acolho meus netos. Com choro. Com medo. Eu acalanto.
A calma chegou. Meu pranto cessou. Enchi o peito. Sonhos. Paz. Alegria. Esperança. Sono chegou. Dormi embalado. Seguro e contente. Com minha avó.