POR UM FIO
O novelo
Uma ponta solta
Puxo o fio
Memória a desenrolar
Ouço cicios
De coisas que moram cá...
Ignoro-os
Continuo a puxar
Esse fio de tênue lembrar.
Quantos ais
Suspiros
Ralhar
Não paro
Continuo a desenrolar
O trançado novelo
Cheirando a avenca.
Estico-o sem vagar
Com pesar
A força o faz vibrar
Acelero a “puxação”
Que acelera a pulsação.
Vem a rendição
Paro de puxar
Morte ao novelo!
O que resta?
Apenas fios soltos
Sobrepostos, amontoados
Começo a chorar
Memórias em águas
Fria, finda.
Clama por flambar.
Olho o ninho
Monturo de fios
Procuro a ponta
Que se perdeu
No tempo meu.
E noutro tempo
A ponta me aponta.
Encontra-me
e ordena novo fiar.
Obedeço!
Reúno os fios em desalinho.
Ajunto, alinho, aninho...
Faço um manto.
E visto minha imensa solidão.