A porta

Ninguém sabe o pesadelo que é encontrar-se indefeso

ter que duvidar dos ecos secos de improváveis passos

jogar com a fraca força a fragilidade dos seus braços

ir descobrir com os próprios membros que esta preso

Ver na própria casa só seu cárcere privado

sentir a faca fria do vento cortar-lhe o sono

revirar o corpo desconfortável, ter ao lado

somente o vulto sarcástico de um abandono

Acumulando contos tenebrosos, dos piores horrores

ser reduzido ao dramático grito de um eterno refém

perdi a conta do quanto eu já gritei as minhas dores

pedi a misericórdia dos bons mas me veio ninguém

Bater e rebater, no mesmo ritmo frenético do coração

acreditar que alguém perceberá sua tempestade sonora

ficar um dia inteiro: longa hora após a outra longa hora

a rodar e rodar a maçaneta de ferro e ver que tudo é vão

Modificar toda a rigidez anatômica da porta irredutível

pela pintura grotesca do seu recheio quente e grudento

e mesmo assim sentir escapar as dores do sangramento

numa força interior que nunca lhe pareceu ser possível

Fiquei falando frases feias, enfatizando fonemas fracos

o cerebro sofre da falta de oxigênio em sua louca viagem

quando rompi o último lacre feito com minha cartilagem

senti reduzir a estrutura ossea do meu punho em cacos

E ouvi: “se sofres, se choras, se revives dores do passado

teu drama, para nós, muito pouco ou em nada nos importa

cesse já todo esse alarde, aquieta a potência de seu brado

já derretemos na chama do ódio a chave dessa tua porta!”

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 07/12/2011
Código do texto: T3376721
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