Neve Primaveril
Os beijos curtos e tímidos
Que se aventuram à beira do abismo
O carinho que me testa a paciência
Declarações lançadas com imprudência
Tolo! Porque deixou-se cativar?
Não tens o direito de lançar em meu colo
A culpa das algemas que criaste para si
Dizendo ser “minha a obra”
Quando as mostra para mim.
Uma dependência afetiva
Tardia, e nociva
Esqueci dos ferimentos
Com outras palavras.
Mergulhando em cada livro
Escondendo-me entre as páginas
Correndo entre os parágrafos
Despistando a dor
Fugindo entre os versos
De mãos dadas com o Autor.
Porém as asas e auréola celestial
Perdi, já não as possuo
Somente a sombra e o vapor lucífero
Restou-me de tudo.
Mereces muito mais
Que um coração cristalizado
Petrificado o desgraçado
Amontoado com gelo
E papéis postos por todos os lados.
Não espero o dia, e sei que este não é agora.
Que alguém o descongelará
E tal dia, pouco me importa.