Das cinzas
Das Cinzas
“Quamquam in fundis inferiorum sumus, oculos angelorum tenebimus”.
Quando vislumbrar o firmamento
E ver minhas mãos erguidas ao céu
Perceberá em vão, nesse momento
Que já não posso alcançar sua margem
A mim é impossível perseguir a miragem
Você negou a mim as respostas
Minhas plenas asas longas
Você as arrancou de minhas costas
Desencadeou mágoas
Abjurou em mim um mar de ondas
Ondas de lágrimas turvas
Sem elas, eu não posso voar ao passado
Não posso divisar o futuro frio
Eu que sempre persegui a liberdade
Transformei em sonhos cheios de brio
Um desastroso pesadelo sombrio
Eu fiz sua vontade
Em busca de um sonho
E agora vejo a verdade
Ser seu mundo era meu caminho
E hoje rastejo nessa cidade
Friccionando meus braços dormentes
Cobrindo meu peito aberto ao vento
Vazio, ungido de lágrimas deprimentes
Você roubou de mim todo o ar
Deixou um buraco enorme
Onde meu coração deveria estar
Responde-me, você chora ou sorri enquanto dorme?
Vê meu mar lágrimas, brilhando
Enquanto minha alma se esvai, some?
Porque em meus sonhos eu ainda te vejo
E mesmo doendo tanto, ainda me lembro
De você sorrindo, me vendo
Mas hoje, isso é lenda… Apenas um lampejo
O que você ganhou em um segundo
Vale o que você perde nesse momento?
Perde o que eu sentia de belo e puro
E a cada lágrima de dor que derrubo
Meu olhar se torna triste e soturno
O que eu sinto por você está se tornando
Apenas mais uma estrela no céu noturno
Meu rosto está seco nesse momento
Pois apesar de ferido, ainda posso retalhar
Eu caminho agora de asas cortadas
Com o coração em uma mão
E a dor de viver na outra
Tocar em feridas do passado
Abre fissuras que não mais se fecharão
E me deixar sofrer em silêncio
Faz doer demais, faz perder a razão
Perder minhas asas e perder meu céu
São detalhes dos quais não me importo de conviver
Mas saber que sua decisão vai te levar a sofrer
É algo que mesmo com tudo que fez
Ainda me faz tremer
Você procura estrelas em um céu sem luz
Dando as costas ao esplendor da Lua
E toda vez que você finge não ver
Eclipsa o brilho dela, que é só sua
Enquanto a Lua que eu te dei perde as cores
A sua própria luz agora míngua
Você se atira num abismo sem volta
Em busca de antigos amores
Não vou me sentar e esperar
Pelo golpe final chegar
Você estará no mesmo lugar
De alma estagnada e sem ação
E sua imagem ainda vai estar intacta
Nas profundezas do meu coração
Eu acabo com a tristeza
E deixo minhas asas crescerem
O tempo cura a ferida e a incerteza
Quando se der conta do futuro incerto
Talvez eu não esteja como sempre estive
Sorrindo, sempre por perto
Com aquela ferida enorme em meu peito aberto.
Serão as suas asas a se despedaçar
E o seu peito aberto a sangrar
Você vai cair como eu caí
E vai sofrer como eu sofro aqui
O frio e escuridão serão sua companhia
E vai sentir-se minguar dia após dia
Vai erguer os olhos na penumbra
E verá ao longe, o brilho da Lua
Que é única e só sua enquanto há tempo
É o que você pode perder nesse momento
Se isso acontecer, sinto muito, lamento
Vai sentir de longe o pulsar de um coração cinzento
Mostrando que a Lua tornou-se uma estrela do céu noturno
Perfurando veloz o céu vazio à noite
Onde eu aprendi que posso voar para sempre…
Brilhando somente por você.