VELÓRIO ÍNTIMO

Que venha a tristeza em tuas vestes negras

Pois já se ouve a valsa cortante da melancolia

Flores também são ofertadas em meio a tragédias

E risos fáceis e conselhos rasos me são dispensáveis

Que venha a noite em teu negrume mais intenso

E os ventos mais tétricos do abandono da madrugada

O sol também mata com duradouras secas avassaladoras

E esperar por uma nova colheita é o que se tem a fazer

Que venha o sussurro da mais sombria e exata solidão

Pois já não importa de que quadrante advém à amargura

O sono da morte às vezes é melhor que ter que acordar

E o limbo onde vivem o que não viremos a conhecer

É melhor que toda vívida natureza humana em nós

Para que sozinho espreite meu velório íntimo

Que venha a celeuma mais forte que possa haver

E que a mesma destrua tudo o que sinto em mim

Até que não me lembre nem mesmo quem eu fui

Para não dar-me conta do amor que em mim existe

Esse sentimento que não se cala ante meu silêncio

Não me obedece ante meus anseios e indecisões

Esse amor que não pode ser e insiste em viver

Posto que verdadeiramente só se viva se a dois

E quando apenas um o que resta realmente é o vazio

Na ânsia louca de agarrar-se a restos de esperanças

Brinca em mim esse menino loco e idiota

Que ainda pensa haver amores incontestes

Sem saber que o que existe hoje não é amor

É o puro desejo de soltar-se ao prazer...

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Leilson Leão
Enviado por Leilson Leão em 14/11/2011
Código do texto: T3335866
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