VELÓRIO ÍNTIMO
Que venha a tristeza em tuas vestes negras
Pois já se ouve a valsa cortante da melancolia
Flores também são ofertadas em meio a tragédias
E risos fáceis e conselhos rasos me são dispensáveis
Que venha a noite em teu negrume mais intenso
E os ventos mais tétricos do abandono da madrugada
O sol também mata com duradouras secas avassaladoras
E esperar por uma nova colheita é o que se tem a fazer
Que venha o sussurro da mais sombria e exata solidão
Pois já não importa de que quadrante advém à amargura
O sono da morte às vezes é melhor que ter que acordar
E o limbo onde vivem o que não viremos a conhecer
É melhor que toda vívida natureza humana em nós
Para que sozinho espreite meu velório íntimo
Que venha a celeuma mais forte que possa haver
E que a mesma destrua tudo o que sinto em mim
Até que não me lembre nem mesmo quem eu fui
Para não dar-me conta do amor que em mim existe
Esse sentimento que não se cala ante meu silêncio
Não me obedece ante meus anseios e indecisões
Esse amor que não pode ser e insiste em viver
Posto que verdadeiramente só se viva se a dois
E quando apenas um o que resta realmente é o vazio
Na ânsia louca de agarrar-se a restos de esperanças
Brinca em mim esse menino loco e idiota
Que ainda pensa haver amores incontestes
Sem saber que o que existe hoje não é amor
É o puro desejo de soltar-se ao prazer...
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