Perdoa
Perdoa por eu ser assim, tão imperfeito.
Por não conseguir tirar o máximo proveito que minha profissão permite,
Pela falta de ambição,
Por todas as escolhas sistematicamente equivocadas
Que somente me dão muito trabalho,
Para tão pouco sustento
Desculpa não é motivo para não fazer
É desejo sincero
De alguém que fugiu, talvez até sem querer,
Dos padrões cartesianos do mundo
Não queria me apoiar nos teus ombros práticos
Eles não deveriam carregar meus sonhos loucos
Fardos indesejáveis.
Deveria fazer diferente, eu sei
Vender a dignidade de ser quem sou por tostões a mais
Mas as pessoas me distraem,
As flores me distraem,
A mais simples brisa me leva para longe,
Para mundos que não existem,
Sem que eu possa evitar.
E paro no meio do caminho para contemplar a beleza,
Colher um instante que não cabe nos bolsos,
Que não plantei nem colhi,
Mas é presente que já vem aberto
Sem rótulos,
Grife divina que César não pode conquistar nem com todo o seu ouro.
Distrações nada afáveis ao senso moderno da conquista
Porque nada custam senão o olhar
Me fazem esquecer daquela conta,
Daqueles bens,
Daqueles sonhos que alguém no mundo criou para mim
Não exatamente para mim,
Mas para me vender.
Vem ver:
A flor finalmente se abriu à contemplação
Seu cheiro tomou conta do jardim logo no primeiro orvalho da manhã
Coloquei as mãos nos bolsos
Olhe!!!!
Continuam vazios