Solidão a dois
Palavras faladas, ouvidos cerrados;
Gritos desvairados, silêncio aterrador;
Olhar que clama, olhos paralisados;
Sentimentos aflorados, visível torpor.
Angústia estampada, alma encarcerada,
que ansiosamente deseja mostrar-se,
e, para ir além do que foi projetada,
insiste em querer diante de ti desnudar-se
Com toda sua infinitude negada,
sem acolhimento e sem atenção,
ausenta-se cabisbaixa da gélida muralha
seguindo sua sina de eterna ilusão.
Repetindo incançável, tenta mais uma vez
que o seu silêncio se faça alvoredo,
mas sem nenhum sinal de sensatez,
sente-se cambalear diante de um rochedo.
Cada tentativa, alma desfalecida ao final,
encerra-se em si mesma, uma imensa solidão,
sabe ela que a cada ensejo, como uma rival
será acolhida sem dó nem compaixão
Passam-se os anos e numa eterna luta,
pergunta a alma sem desanimar:
até quando clamar, se não me escutas?
Só uma coisa é certa, não descansarei até que eu aprenda de direção mudar.