O buraco
Quem olha de cima, nada vê
Senão apenas um buraco cheio de vazio
Um vácuo terroso, no meio do nada
Onde qualquer um pode cair
Como se fosse uma armadilha
Armada por alguém sem malicia
Sem interesse em prejudicar
Quem quer que fosse
Um buraco inerte, escuro, frio
Cavado na terra seca
Sob um sol escaldantemente vulgar
A esquentar o que sobrou de matéria
Em seu fundo, um mundo
Construído com o silencio da serenidade
Que paira perene e suave
Pela espaço não preenchido
Nas bordas, rastros
Como se alguém quisesse ter pulado
Para dentro de seu mistério
Para fora de sua existência
Sobre ele, pássaros voam
Em movimentos circulares perfeitos
Em seus anseios instintivos
De cavar um ninho que lhes traga paz
Sob ele, só terra, e mais terra
Metros de pedras e minérios
Preciosa profundidade que se estende
Ao centro terrestre do abismo universal
Ao seu redor, muita terra
E uma extensão quase infinita
Que se perde em todas as direções
Em busca de um só lugar
Um buraco
Sozinho, estático, eterno
Como o sentimento que não perdura
Pela falta de outro a lhe preencher