As duas vozes


Quando estou comigo mesmo,

Nos dias que vivo à esmo,
Uma voz fala, outra escuta.
Ora orienta, pondera,
A outra responde qual fera
Nesse simulacro de luta.

Uma é fútil e conquista
O amor à primeira vista
E quer ao mundo se entregar.
Vangloria da sua sorte
Ao debochar da própria morte,
É irreverente, sem calar.

A outra, é douta, sensata,
Quando não tem jeito, acata,
Mas cumpre seu papel ao falar.
Na eterna dicotomia
Eu convivo dia a dia,
Sempre com as duas, sem parar...