Eu, dentro de mim
Já andei sobre pedras pontegudas, afiadas
Dilarecendo pés, alma, coração e pensamentos,
Duras pedras e amorfos fantasmas vestidos
De pesadelos de perdas que a alma chora.
Caminhei sobre as sombras do que fui,
Caminhei sobre meus próprios escombros
Carregando solidão, dores e lágrimas
Mas ia sempre sem saber se o vazio
Estava dentro de mim, ou no mundo.
Caminhei por dias, por noites, por vidas até,
Sem me importar com a distância do horizonte,
Para mim todos os horizontes estavam bem ali...
Ali, onde ninguém foi, ali em lugar nenhum
Onde só meu pensamento doentio pela dor
Dilacerente que me rompia a alma podia ver.
Deitei com as estrelas me cantando canções
Que não ouvia, com o luar me dando banhos,
Me afagando o corpo e eu não sentia.
Tudo foi ficando ainda mais triste, sem cor...
Minha voz se tornou um sussurrante gemido,
Ou a súplica de uma oração que ninguém ouvia,
Até tentava gritar, mas como num pesadelo
Nem eu mesmo me escutava, mas ia seguindo sempre
Até chegar aqui... aqui onde estou... aqui dentro de mim.