Elegia d’Amor Idílico
De um hibernal crepúsculo! Anjo, vi-o!
Na indiferença alheia em que senti
Luzente escuridão de um calor frio!
Contemplo o alvorecer do escuro em ti!
Sentimento insensível que me agiu
No efêmero momento em que o extingui!
Do inferno repentino em mim surgiu
A essência de um amor filosofal
Cuja existência vil nunca me viu!
De um estado de espírito do mal
Sortilégio boníssimo ascendeu
A eterna maldição em mim fatal!
O amor em teu semblante pereceu,
Pois nada há mais d’olhar d’antes cortês
Que mostrava o recíproco apogeu...
Mostrou-se implacável mais uma vez!
Sozinho e sem a ajuda de ninguém,
Ceifou-te e a minha vida se desfez...
O opaco brilho em minha alma provém
D’aura d’alguém ausente a mim tão cedo,
Porque a parte de mim morreu também...
Hiberno-me um inverno e em mim me excedo!
Congelo! Congelando! Congelado!
Do perverso pavor não sinto medo...
Eu não sinto mais nada e, resignado,
Despeço-me do vulto se extinguindo...
O acorde adormecido há acordado!
Um transitório instante a mim infindo
Nesta ínfima fração de um tempo horrendo
Em que deliro enquanto estou dormindo...
Agonizo e alucino o horror tremendo!
Quebranto aquebrantado, o afã chorando
No afago do anjo; em morte, o conhecendo...
Tristemente o meu peito está cantando
Em nota melancólica a canção
De um pássaro operático, até quando...
Em um último canto de emoção,
A última cousa vã que hei de sentir:
As ilusões que não me iludirão!
Desventura e infortúnio sem porvir
Que me destinais, Santo Serafim!
O Interlúdio de um ciclo a ressurgir...
Dediquei-te na epístola o áureo fim
Deste edílico epílogo da morte...
À Elegia do Amor que havia em mim:
Eu jamais poderei dizer-te: – Amor te...
(Bhrunovsky Lendarious)