ENFIM SÓS
Então eu pergunto:
o que pensar ou sentir quando se está só?
As pessoas dão importância pra ligações repentinas?
Lhe atendem porque te gostam ou por dó?
Com o tempo descobri que amigos são o contrário de minhas rugas
quanto mais velho se fica, menos se tem
E então eu lhe pergunto:
tens alguém que lhe atenda na solidão da madrugada?
Ou da noite, da tarde, do escasso horário de almoço ou intervalo?
Sortudo é aquele que tem alguém além de sua mãe
Com o tempo descobri que a solidão, esta que cá sinto
é a mesma que minha genitora lá sente
E então eu lhe pergunto [e não estranhe a entrevista]:
estás a sós com a solidão ou é saudade o que sente?
Pois que pra esta lhe tenho a resposta,
NÃO SEI.
Com o tempo descobri que nem tudo é tão distinguível como o preto e o branco
que a vida passa...eu continuo aqui esperando no ponto
E então eu lhe pergunto:
o que tens? Ou melhor, quens você tem?
Amigos? Familia? Amores? Sapos? Deus?
Quem são os seus? Quem lhe recorda na doença, na alegria, na saúde e na tristeza?
Sorte a sua se os ou o tem.
Talvez no fim desta entrevista queira perguntar-me algo?
Pois diga
o que tens? Ou melhor, quens você tem?
E então eu lhe respondo:
penso em nada e sinto tudo,
tenho minha mãe, mas não tenho quem me atenda de madrugada
tenho tudo e não tenho nada
Com o tempo descobri que tudo passa, só parece não passar a antítese que vivo,
só parece que nada tenho, que não tenho ninguém,
e que por isso morro, e a sós vivo.