ENFIM SÓS

Então eu pergunto:

o que pensar ou sentir quando se está só?

As pessoas dão importância pra ligações repentinas?

Lhe atendem porque te gostam ou por dó?

Com o tempo descobri que amigos são o contrário de minhas rugas

quanto mais velho se fica, menos se tem

E então eu lhe pergunto:

tens alguém que lhe atenda na solidão da madrugada?

Ou da noite, da tarde, do escasso horário de almoço ou intervalo?

Sortudo é aquele que tem alguém além de sua mãe

Com o tempo descobri que a solidão, esta que cá sinto

é a mesma que minha genitora lá sente

E então eu lhe pergunto [e não estranhe a entrevista]:

estás a sós com a solidão ou é saudade o que sente?

Pois que pra esta lhe tenho a resposta,

NÃO SEI.

Com o tempo descobri que nem tudo é tão distinguível como o preto e o branco

que a vida passa...eu continuo aqui esperando no ponto

E então eu lhe pergunto:

o que tens? Ou melhor, quens você tem?

Amigos? Familia? Amores? Sapos? Deus?

Quem são os seus? Quem lhe recorda na doença, na alegria, na saúde e na tristeza?

Sorte a sua se os ou o tem.

Talvez no fim desta entrevista queira perguntar-me algo?

Pois diga

o que tens? Ou melhor, quens você tem?

E então eu lhe respondo:

penso em nada e sinto tudo,

tenho minha mãe, mas não tenho quem me atenda de madrugada

tenho tudo e não tenho nada

Com o tempo descobri que tudo passa, só parece não passar a antítese que vivo,

só parece que nada tenho, que não tenho ninguém,

e que por isso morro, e a sós vivo.

PAULA RAZZABONI
Enviado por PAULA RAZZABONI em 06/08/2011
Código do texto: T3142411