Cárcere privado
Que estranha a vida que levo,
se é mesmo vida, que estou a levar!
preso, alheio aos próprios coevos,
mover-se sem ir, como o mover do mar…
Quando se romperão as amarras,
que atrelam à solidão, somente por atrelar?
Abstraindo-me do fado às garras,
deste ficar sem ter, só por ter que ficar.
Essa insegurança não acha termo,
robustece, um tic-tac, dois temores;
que valerão asas sobre o ermo,
quisera antes, passos entre as flores.
Ora a cela, ora o pátio restrito,
da lama das trevas, ao banho de sol;
o infortúnio, carcereiro maldito,
brinca com a presa, em seu anzol.
Ai nasce assim, um poema casual,
a fartura de tempo e sua lógica;
misericórdia, terapia ocupacional,
a alma, necessidade psicológica…
Excêntrica pérola, fundo escondida,
ostra engolida, ventre de baleia;
esse dom de embelezar a vida,
vegetando uma vida feia…