Cárcere privado

Que estranha a vida que levo,

se é mesmo vida, que estou a levar!

preso, alheio aos próprios coevos,

mover-se sem ir, como o mover do mar…

Quando se romperão as amarras,

que atrelam à solidão, somente por atrelar?

Abstraindo-me do fado às garras,

deste ficar sem ter, só por ter que ficar.

Essa insegurança não acha termo,

robustece, um tic-tac, dois temores;

que valerão asas sobre o ermo,

quisera antes, passos entre as flores.

Ora a cela, ora o pátio restrito,

da lama das trevas, ao banho de sol;

o infortúnio, carcereiro maldito,

brinca com a presa, em seu anzol.

Ai nasce assim, um poema casual,

a fartura de tempo e sua lógica;

misericórdia, terapia ocupacional,

a alma, necessidade psicológica…

Excêntrica pérola, fundo escondida,

ostra engolida, ventre de baleia;

esse dom de embelezar a vida,

vegetando uma vida feia…

Leonel Santos
Enviado por Leonel Santos em 30/07/2011
Código do texto: T3128078
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