Carme

Esta obra em construção lenta e corrosiva

Mil coisas a fazer

Mil léguas a percorrer

Mil palavras a traduzir

E todas envoltas numa semântica

profunda e dúbia

Esta obra sempre em construção,

Em gerúndio doentio, reticente e inacabado

O vergar dos dormentes combalidos da estrada

O zoar da eletricidade passando rápida e fatal

A ida que tem a volta e, a volta que não tem ida.

É o tempo. E a espera do tempo.

Compasso desesperado e contemporâneo.

A não perdoar minhas rugas,

Minhas mãos,

E minhas pernas

Onde estão já que não consigo correr?

Fugir, escalar e, por fim, alcançar o

objetivo indefectível:

A morte ou o envelhecimento.

O fim ou o esquecimento.

Pois somos esquecidos num canto qualquer

do retrato, da estória, do passadiço

E, as palavras aderidas a moldura,

Revelam segredos indiscretos

Indizíveis…

Só o silêncio pode compactuar com

o carme,

ditará o ritmo certeiro

e a cura de todas as angústias…

só silêncio sabe a hora exata

em que a construção será concluída.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 21/07/2011
Código do texto: T3109521
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