Geografia da chuva

Chove torrencialmente lá fora

As gotas escorrem desesperadas em

direção ao chão, ao rio, ao lago e ao mar…

Raios bradam iluminando subitamente

a noite fria

O Beethoven toca ao fundo em sinfonias

Tão tempestuosas quanto a borrasca lá de fora

O vento sopra soberano e varre de mim

Todas as idéias, todas as mágoas

As sombras molhadas se apagam da memória

Lavando tudo numa profusão de água e azul.

Fica essa sensação úmida e vazia,

Frio denso e doído

Percorrem os ossos, corroem os dedos

A chave caída num canto parece rir

do segredo da fechadura

A chuva parece rir do dia,

do sol quente e inclemente

do suor enigmático

O vento parece rir

Do abafadiço lânguido

Do fim da tarde…

A natureza ri e gargalha

ao som dos trovões

operísticos

Que amedrontam e fascinam

Na varanda por entre gotas e lágrimas

Há um arremedo de sentimento,

Há uma quase-palavra

Que dorme ao relento

Em plena chuva

Que salva em pequenos botes

O significado das pequenas coisas,

Miúdas e imensas

Profundas e tangentes

O significado do dia

O significado da selva interna

Da chuva que inundou o dia

De semântica e calma.

Sob olhar do relevo humano da face.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 15/07/2011
Reeditado em 12/03/2018
Código do texto: T3096136
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