A MOÇA COM A MALA
Da ponta dos dedos
brotam risos e flores
e nascem cidades
e tecem-se as teias.
Da lama enfim o pó
que tudo encobre
faz a boca seca
e turva a vista
do caminhante.
Estavas assim
perdida
em rumos distraída
e nada havia
em torno...
Solas gastas
de tanto caminho
pés que levam sempre
sem perguntar pra onde.
A tarde se ia
em franjas de luz
e a brisa roçava teu cabelo
Na curva da estrada
o corpo pendido
no peso da mala
tua saia rodada
a pele morena
Seguias pra onde?
Chegavas de longe?
E eu só queria
que o tempo parasse
você vindo assim
pra sempre chegando
sem nunca chegar
sem nunca partir
na tarde morrente
a vida espreguiçada
em silêncios...
[Ao longe, gritos de meninos]
Mas você passou
pros lados da estação
com sua mala pendida
seu vestido em
voltas c'a brisa
enquanto a tarde fugia
e meu coração silenciava...
Da ponta dos dedos
nascem paisagens
tecem-se as teias
Sonhos se vão de trem
apito machuca em fio
saudade se queda muda
e só
num banco vazio...
Texto publicado em junho de 2008 (revisto e reconfigurado) e mantida a antiga publicação com seus comentários.