Traça
Não há geografia possível
onde você possa estar
não há anatomia suficiente
para lhe conter
Não há olhos que possam enxergar
pois luz não há e
nem existem as trevas
O sol hoje amanheceu sozinho
A estrela foi abandonada pela lua
O arco-íris hoje é preto e branco
e as nuvens esfareladas
caíram sobre os morros
Sepultaram nossa estória
Os caminhos rotos perderam as trilhas
A beleza do cactus
De teus olhos marejados
de gotas, de silêncios
e dores nunca confessadas.
Abandonamos juntos a
vontade de seguir
e as reticências nos perseguem
infelizes e suspirantes
As primaveras perderam a cor das flores
Os invernos perderam o sol tímido
Os outonos deixaram suas folhas caírem
no abismo do esquecimento
Só nos resta os ventos
mensageiros de improváveis de sentimentos
não adianta de nada
nos servem
despem nossas saudades
e agasalham o fiapo
da esperança
que a traça comeu
dentro do livro.