IN_CÔMODOS DA MINHA CASA...
Estive aqui… a olhar a fumaça do meu cigarro.
Percorre-me o interior do meu corpo. Cérebro.
Mata-me cada dia um pouco.
Viaja em mim. Conhece-me.
Faz-me uma estranha companhia.
Eu a trago. Ela traga-me. E traz-me. Idéias e morte.
Queria poder sentar-te neste trago.
Ele te levaria pela mão… à minha morte. E vida.
Dentro de mim há muitas vidas. E morte.
E conhecerias, de fato, a casa desarrumada de mim.
Desarrumada e inquieta. Mas muito enfeitada.
Enfeites que caem. Luzes que teimam em apagar-se.
Eu as acendo. Todos os dias. Não é fácil, de fato.
Em cada cômodo de mim. Cores diferentes.
E me compreenderias os sorrisos que, por vezes, não quero dar.
Não é que eu não consiga. Não quero mesmo dar.
Depende do cômodo que eu esteja a visitar.
Visitando-me com este trago que agora dou. Dor.
Sentirias a dificuldade que me é peculiar sempre.
A de tentar andar por dentro de mim mesma.
Estou sempre descalça.
Nesta desarrumação que tento arrumar sempre.
Destas luzes de diversas cores.
Destes vários cômodos. Incômodos.
Alguns trazem-me a paz. Destes, muito gosto.
Mas são pequenos. Apertados.
Por vezes nem me cabem.
Mas caberia a ti, meu doce amor.
Porque tens alma de criança.
E às crianças sempre cabem os sonhos.
Se bons… ficam ainda mais doces.
Se ruins… têm a varinha mágica de transformá-los amenos.
E trazer sorrisos francos. Fáceis.
Vens. Senta-te na fumaça do meu cigarro.
Trago-te. Arruma-me. Podes tentar.
Mas tens que lidar com o “comigo” de dentro de mim.
Com a vida dos cômodos pequenos e coloridos.
E com a morte dos cômodos largos e escuros.
Trago-te. Traga-me, meu amor.
Karla Mello