miserável mistério
miseráveis poetas
declamam palavras e rimas
na esperança de um sentimento melhor
miseráveis trovadores
a cantar a angústia de existir,
como chuva intermitente
como sarau de final de tarde
que vem a borrar de roxo o céu
de inverno
miseráveis e trôpegos
que esbarram nos ínfimos limites
da realidade
transbordam em signos
e significados indecifráveis
além do quadro
há o ardor das cores
a gritar o passado
além das palavras
há o fervor dos sentimentos
mofados e embutidos num coração solitário
pendurado na prateleira do tempo
além do momento presente
há um passado
há um futuro
um devaneio reto de tempo
que esbarra em segundos, minutos,
horas e talvez séculos.
Miserável poeta
que tenta domar a palavra exata
se ele se esvai em imensidão e
mistério.