Que a vida seja assim, como essa tarde assim
De domingo, dormindo toda a vontade de ser
Mais que assim tão apartado e esquecido de mim
Que não toquem os telefones e não soe a campainha
Que não chegue correspondência e ninguém bata à porta
Que a beleza do parque não venha passear em mim
Que o calor do sol sirva só para a contemplação
E a preguiça ao acaso se por acaso sempre for assim
De haver sempre quase nada que sirva ou mais que sim
Que eu diga as palavras na ordem certa na hora errada
E que na hora certa minhas palavras não digam nada
Que a vida seja então este silêncio assim, bem assim
De uma tarde que senta na beira e espera a noite vir
Que nenhum pensamento venha se ocupar de mim
Que este verso que se insinua volte para os seus confins
E que nenhum olhar me veja assim, sem olhar enfim
Que não me toque nenhum desejo, nem de um beijo
Que nenhuma força me leve e me deixe aqui enfim
Sem a mão que me toma e sem aquilo que não retorna
Que nenhuma dúvida me defina, nenhuma resposta explique
Que fique tudo muito bem como está e bem onde está assim
Porque terei compreendido para que servem essas tardes
E por que tenha sido sempre um eterno domingo em mim
A espera de um anoitecer enfim, o fim de sentir tudo assim

 
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 22/05/2011
Reeditado em 19/05/2021
Código do texto: T2985909
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