Grave

Ele vai com o violão.

O violão o leva.

A mão toca a corda que toca a mão.

A caixa é o peito que reverbera.

Foi lá bem longe e só

Sozinho se afinar.

Na bolsa, um amor sem mote

Para motivo nunca faltar.

Não fosse ela, como comporia?

Depois de tantas conquistas,

É a derrota a alforria

Para seu coração saudosista.

Não se vê, na face funda,

Que a doce melodia

Nasce da mão calejada, muito dura.

Baforeja sua música.

Cada acorde, expressão única

Da composição inacabada que é sua vida.

No meio do palco,

Nenhum aplauso.

Colcheias de solidão.

Semi breve,

Nunca breve

Compasso dois por nada

Grave e pesada a afinação.

Paulo Fernando Pinheiro
Enviado por Paulo Fernando Pinheiro em 20/05/2011
Código do texto: T2982909
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