Grave
Ele vai com o violão.
O violão o leva.
A mão toca a corda que toca a mão.
A caixa é o peito que reverbera.
Foi lá bem longe e só
Sozinho se afinar.
Na bolsa, um amor sem mote
Para motivo nunca faltar.
Não fosse ela, como comporia?
Depois de tantas conquistas,
É a derrota a alforria
Para seu coração saudosista.
Não se vê, na face funda,
Que a doce melodia
Nasce da mão calejada, muito dura.
Baforeja sua música.
Cada acorde, expressão única
Da composição inacabada que é sua vida.
No meio do palco,
Nenhum aplauso.
Colcheias de solidão.
Semi breve,
Nunca breve
Compasso dois por nada
Grave e pesada a afinação.