Rio abaixo
Desço o rio
e vejo a lâmina afiada
da solidão rasgar
o seu leito sempre
refeito sem marcas ou cicatriz.
Banhada e acariciada,
segue a lâmina da solidão
a rasgar, por teimosia,
o rio no seu leito sempre
refeito sem marcas
aparentes de dor.
Teço o fio desse rio,
sigo o seu curso
que não está em mim.
A natureza esbanja
seu olhar de mil e um olhos
sobre mim e a solidão
a descer o rio no seu curso.
Apago o seu rosto da memória,
quebro o meu coração
para proteger-me da ausência do seu.