Concreto efêmero
O que te fez mais feliz ao longo de sua vida?
O que te fez sentir sensações nunca vividas antes?
Realidade ou imaginário? Tangível ou intangível?
Porque o sonho é mais efêmero que o concreto?
O cimento dos alicerces racha com o sol e o calor,
prédios desabam sem aviso implodidos em sua materialidade,
pontes caem com as violentas águas de chuvas de março,
barreiras são destruídas pela força de tempestades,
e você diz que só o que se pode tocar pode resistir?
Você vive em seu mundo construído por um concreto efêmero,
se ilude com a falsa segurança do visível aparente,
mas nem mesmo os mais sólidos rochedos duram para sempre,
e ás vezes é a essência do sentimento que subsiste ao tempo,
é aquilo que faz pulsar o coração para além de exames médicos,
é o pensar dia e noite em alguém que nos traz a felicidade,
sentimento eternizado em momentos e não em provas materiais,
experiência de vida que ao se aprisionar se corrói na realidade,
e você troca o significado interior por um sentido externo triste...
Tens sua certeza sedimentada sobre sua solidão interna,
crê em uma objetividade que lhe fecha as portas da alma,
vira as noites insone enquanto a cidade que sonha dorme,
encarcerada na fortaleza de concreto que ergueu para si,
afirmando para si mesma estar protegida da efemeridade,
e os castelos desabam a sua volta como baralhos em revoada,
enquanto sua impermeabilidade a sufoca em um círculo de fogo,
queimando no ressentimento de sentir-se traída pela ilusão,
mas traístes a si mesma ao não viver o sentimento sem cobranças...
Sua vida desmonta-se no concreto efêmero...