Escreva
Escreve alguma coisa
Algum sentimento.
Palavra soletrada,
sílabas perdidas em titubeios
Ressonâncias fonéticas
Nasais e estridentes
Grite.
Venha ganir,
uivar até que a dor acabe
Ou a voz acabe.
Ou amor desapareça.
Procura-se um amor urgentemente
Que abriu a janela e jogou-se no precipício
das vaidades cotidianas
Procura-se amor
Que se espatifou entre egos e cacos
Ou se perdeu entre pregos ou afagos
Quem poderá ser o lenitivo ?
Para a loucura,
para a solidão,
para a orfandade
Para a indiferença da selva de cimento
Com seus poluentes naturais e asfixantes
Quem poderá?
Escreva alguma coisa.
Pois a palavra é o oxigênio da alma.
Escreva …
Um som, uma dúvida ou um lamento.
Não fique mudo, estático e inerente…
Não fique absurdo, abstrato e abscidado.
Sem sentido e sentimentos.
Sem emoções e sem tempo.
Pois o tempo é este o de agora.
Escreva o que está acontecendo
Nem que seja em sua imaginação,
No seu devaneio profundo que acaba
Quando você acorda.
Escreva nem que seja para.
remetente anônimo
destinatário incerto.
Mas a palavra é sempre exata
A exatidão medida pelo infinito do universo.
Escreva na poeira das estrelas
Pois a eternidade é leitora.
E nós, somos apenas a platéia.