Se for preciso...
Se for preciso, hoje, fazer um inventário
Que só a morte deveria concluir e selar,
Se for preciso eu mesmo ser o secretário...
Se for preciso instituir-me meu próprio tabelião
Escrivão de mim mesmo e ser dupla testemunha,
E assentar a rubrica depois do ponto final,
E carimbar o selo-código da assinatura;
Se for preciso fechar a cláusula afetos e firmar o contrato
E recortar o artigo amores com o parágrafo,
E cinzelar a pedra e gravar a epígrafe
Se for preciso instituir-se reitor e magistrado;
Se for articular a falsa crença a este novo repertório
Sem nenhum exceção e sem demora,
E sem transcrição e sem transbordamento do coração
E sem transgressão e sem escapatória:
Se for preciso sobre estes destroços erigir um novo código,
E sobre estes castigos, você entronizar um novo rei,
E plantar o código de uma nova lei,
Sem nenhum acontecimento e sem nenhum episódio;
Se assim for preciso,
Ninguém mais passará o limiar do nosso deserto
Ninguém entrará na sua cidadela
Pois só eu terei a senha que você em segredo sussurrado me ofereceu
E no seu templo, eu, o mais fiel e leal.