DIÁRIO SEM TEMPO

É manhã.

Quase morro ao acordar.

Lá fora uma cortina de chuva rendada

Impedia-me de ver o tempo,

O outro lado do tempo.

Não foi o tempo que comeu

Minha esperança,

O claro dos meus olhos.

É manhã.

Ainda sem tempo nos olhos

A chuva fina cai da minha mente

Eu não quero claro

(não é uma questão de visão)

Meu interior é cego

Corpo e mente não se entendem

Mordem-se

(dubiedade da alma)

Enciumados por mim,

Ponte intransponível.

Meu coração dorme, sono profundo.

Nada faço.

Não há vitória.

Mas é manhã,

Ainda é manhã

Não podia ser outro momento

É.

O tempo é e eu não

Sou no tempo,

Dependência do vago cômputo

Das horas,

Relógio que é.

Não faço sombra,

Não tenho cheiro

Não sou elo.

É manhã.

E chove necessariamente

Para mim.

Uma cortina de chuva rendada

Separa-me do tempo

(não da manhã)

Não de mim

Que não sou.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 14/04/2011
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