Voz
Calada, a voz é branca
e o verso é inútil.
A chuva da noite
não me consola
com a solidão conhecida.
Outra rima não vem
e nem a procuro.
De tudo descuro,
cansam-me os esquemas
donde não jorram os poemas
que falariam do mal que sinto
nessas noites
em que a dor
me alucina,
sem que me baste
a morfina.
O ponteiro do relógio
percorre o caminho
de sempre.
A voz no telefone
não me atinge,
minha face logo finge
uma desculpa qualquer.
Não quero mais ouvir
esperanças no porvir.
Eu só queria
um alívio,
um silêncio
e que o novo dia
me trouxesse
um bilhete só de ida
para onde a dor
fosse banida.