A Verdadeira Solidão
Ainda resta alguém para me ouvir
Ou foram todos definitivamente embora?
Estou mesmo sozinha?
Havia até esquecido como era me sentir assim
Está escuro
E não posso segurar a mão de ninguém
Pois não há mais ninguém aqui
É estranho
Que o mesmo conforto de outrora
Se torne insegurança neste momento
Talvez seja a companhia etérea de Byron
Que dê a tudo um ar spleen
Ou talvez seja a incapacidade de admitir a solidão
Que cria esses fantasmas melancólicos
No fundo, pouco importa sua origem
Mas sim o efeito de sua presença
Que inebria os sentidos
E parece realçar os canais lacrimais
Eu não sou fraca
Então por que me sinto assim?
Cheguei tão cedo ao meu limite?
Não devia estar pensando em desistir
Uma voz interior grita
Com um pouco de sanidade
Para que eu me reerga
Mas sinto os braços de Byron
Me puxando de volta à escuridão
Eu não quero chorar
Mas tampouco quero conter as lágrimas
Minha identidade oscila
A menininha curiosa e espontânea
E a rainha do gelo
Sou as duas
E não sou nenhuma
Sou eu
E isso é o mesmo que não dizer nada
Se eu devia mesmo estar aqui
Então por que isso soa tão errado?
O que soaria certo?
Soaria certo se eu não desistisse de você?
Soaria certo se lutasse por um sonho perdido
Que sequer almejo mais?
Soaria certo não afastar aqueles que podem me ferir?
Soaria certo deixar-me ser protegida?
Ou eu me arrependeria tão rápido
Como sempre acabo fazendo?
Sou um poço de não-sentimentos
Alguns querendo virar sentimentos
Outros não querendo virar nada
Todos me assombrando
Me refugiei na raiva para permanecer forte
Mas toda força extrema
Gera fraquezas extremas em outro ponto
Uma mente forte pode proteger um coração fraco?
Um objetivo grande pode sufocar um desejo tolo?
Ou estou perseguindo fadas outra vez?
Não quero que me diga o que fazer
Mas não ficaria chateada se me desse uma pista
Não sou de ferro, afinal
E não posso carregar a armadura o tempo todo
Talvez eu o deixasse abraçar meu corpo vulnerável
Se soubesse que nunca me deixaria
Mas não posso confiar em você a esse ponto
E assim, condeno-me à eterna solidão
Talvez por medo de que a falta de sua presença
Seja mais dolorosa que a simples ausência de tudo
Eu nunca disse que era uma criatura simples
E me enveredei em enigmas
Justamente para não ser desvendada
Quem leria um livro cuja capa não é atraente?
Estou isolada, mas não sou ingênua
Tenho consciência plena do quanto me odeiam
E não ligo
O único que me importa
Jamais passaria da primeira página
E eu não tenho como fazê-lo continuar
Devo ter feito algo muito errado
Para entrar em tamanha contradição
Para querer e não querer você
Parti de escolhas difíceis
Cheguei em caminhos ainda piores
E não tenho direito a arrependimentos
Tenho minhas razões
E não posso revelá-las
Sei que jamais aceitaria meus mistérios
Ou minhas mentiras
Por isso sei que jamais o terei de volta
Então, estarei verdadeiramente só