Era tudo.
Um olhar de neblina
A noite da janela
Ah noite severa!
E d’ela vê-se
Os quadros enfileirados
Telas brancas no quarto
Um olhado
No interior desses quadrados
Panos.
E bela é a pintura
Que lhes faço
E disfarço o sorriso
Desfaço o ocorrido
Com uma lembrança...
Negror céu e cinzas
Silenciosas latentes lágrimas de esperança
Ah, da lembrança
Era o que eu tinha
Era tudo o que eu tinha.
E as telas pintavam-se do teu sorriso,
Dos teus lassos sorrisos,
E isso era tudo.
As estrelas brilhavam
Em seu vasto cenário celestial
De sinistros tons,
E pintavam-se os quadros
De minhas ilusões
De ardentes mundanas paixões
Que me vinham que me iam,
E sim, era tudo.
E o amor naufragou
Na infrene tormenta desse coração.
Que pintam agora
Esses quadros nessa hora?
Serão meus dias que eram vãos
Oh, cheia de atroz melancolia
Ensopadas de clamor?
E era tudo.
Eu sei que um dia serás
A grácil aquarela alegre
Na tela vida incauta de alguém,
E novamente pintando o céu
Das flamejantes cores do amor
Que pululam do seu ebúrneo coração.
Mas por que...
Por que esse céu não pode ser o meu?