Vira-Lata.
Ouço passos no silencio de tantos gritos que estimulam meus tímpanos.
Ouço sopros da flauta transversal – ouço ruídos do violino.
Passo por casas, igrejas e bares.
Passo por avenidas, ruas desertas e estradas movimentadas.
Passo no meio de tantos à procura de um simples gesto: um abraço.
Sinto a ausência de longos braços se trançando ao meu corpo,
Sinto saudades de um abraço.
Sinto saudades de algo, de um beijo. Nem que seja no rosto, mas que no fim acabe em um abraço.
Ando milhas em várias idas, acabo dormindo para que o tempo passe, passo por lugares tristes e alegres,
Vivo na escassez, alimento pela água que cai da chuva e se junta com minhas lágrimas.
Passo entre várias pessoas, mas passo como despercebido. Isso feriu a fera que há explodindo por dentro.
Muitas vezes tenho vontade de partir, mas eis que surge um amigo – não sei se imaginário ou real.
Sempre que entro e curto e começo a dar surto, aparece um pássaro que, de onde, sei lá, surge.
Na verdade, eu acho que é um pássaro, pois ele tem asas...
Ele sempre me diz palavras de conforto. Ele sempre me diz: Cante não deixe de cantar! Vitória, vitória.
Do nada, ele some sem mesmo revelar seu nome, sobrenome, mas, nessa nostalgia, ele me envolve. Queria sê-lo. Queria poder cantar, mas minha voz não sai – minha voz se mistura com os gritos entre minha mente.
Não tenho pedigree, para muitos sou um vira-lata, um cachorro que vive entre um lado e outro em meio a muitos, mas à procura de abraço.
À procura de um pouco de carinho, de alguém que me veja, que me queira, que me beije e me respeite.Alguém que me abrace!
Renatp F.Marques.