ACRÍLICOS

Lá é claro demais

aqui falta silêncio

que signifique.

Minha carência

não é

navio de velas pandas

tal o navio de Pessoa

tampouco é Sol

rachado ao meio.

Tua presença

incomoda

na sala

onde os livros

se refugiam.

A rua fora

a casa dentro

dois extravios.

Tudo extrapola

invade

a casa que violenta a rua que violenta a casa.

Nada sabemos

da nossa presença.

Pinto as unhas.

Vais à cozinha.

Retornas.

Tento escrever estas linhas.

Uma mesa-de-centro

de acrílico

e de abismos.

Nossas pupilas alheias

bojo de vazios.

Nada sabes

de nada disto.

Nada sei

do que não sabes

de nada disto.

A desistência

no vermelho das unhas.

Estas linhas

aves sem bico.

Poema original de 10 de agosto de 2007.