Nuvens sob o céu da madrugada
As nuvens estão longe e falam comigo.
Elas fecham o meu dia e dizem que acabou.
O escuro, companheiro do silêncio, intimida.
A noite comunica o fim das companhias.
O tempo nublado são as pálpebras do meu espírito
Que sozinho olha para si.
Como um ser vendo-se no escuro
E vendendo sua alma ao primeiro que quiser comprá-la.
As nuvens são gélidas como a respiração.
O frio faz-se ainda mais frieza.
Ofuscado, congela o tempo para o poeta pensar.
A noite comunica essa alegria.
Alguns poetas são amantes da noite.
Enquanto todos dormem o sono da morte e da digestão.
Para o poeta comer seu próprio coração.
Para o espírito sensato, que encontra sua solidão.
As nuvens são, agora, meu telhado mais forte.
Além da pedra, barro, ponta de cascalho.
O poeta sobrevoa as nuvens embriagado.
Contagiado pela ínfima de nenhuma conclusão.
É que poetas não concluem nada.
Conclusões esbarram nas nuvens.
Poetas avançam para todas as direções.
São livres, ficam vendo nuvens como se fossem chão.