As horas pingando de uma torneira

A porta se abre rangendo de medo

As horas pingando de uma torneira

Respingam um sabor de limão azedo

Desdenham da paciência de sexta-feira

Dez minutos que nunca se completam

Olho e parece nem se mover um ponteiro

Ruídos insalubres que muito me inquietam

Fazem daqueles instantes o pior roteiro

No andar de cima passos femininos ávidos

Troteiam como a riscar o piso de cerâmica

Lá fora rolam barulhentos veículos impávidos

Fria neblina parecendo atmosfera britânica

E eu que nem ainda cuidei-me de jantar

Pois que acabo de visitar um amigo do peito

Que em leito de hospital moribundo está a lutar

E triste confesso achar que não haverá jeito

As páginas do livro continuam sendo abertas

Neste capítulo que parece nunca mais acabar

Busco o momento de extrair respostas certas

Das dúvidas que em copos ousam me afogar

Harock
Enviado por Harock em 06/01/2011
Reeditado em 18/05/2021
Código do texto: T2713610
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