As horas pingando de uma torneira
A porta se abre rangendo de medo
As horas pingando de uma torneira
Respingam um sabor de limão azedo
Desdenham da paciência de sexta-feira
Dez minutos que nunca se completam
Olho e parece nem se mover um ponteiro
Ruídos insalubres que muito me inquietam
Fazem daqueles instantes o pior roteiro
No andar de cima passos femininos ávidos
Troteiam como a riscar o piso de cerâmica
Lá fora rolam barulhentos veículos impávidos
Fria neblina parecendo atmosfera britânica
E eu que nem ainda cuidei-me de jantar
Pois que acabo de visitar um amigo do peito
Que em leito de hospital moribundo está a lutar
E triste confesso achar que não haverá jeito
As páginas do livro continuam sendo abertas
Neste capítulo que parece nunca mais acabar
Busco o momento de extrair respostas certas
Das dúvidas que em copos ousam me afogar