Ao Meu Redor

Não, eu não rosno

Sim, eu mordo

Com dentes afiados em pedras

Que me jogaram por prazer

Esfrego-me, lambo, manho, procuro em silêncio

Desminto meus motivos por impulso

Procuro algo avulso que sirva de escudo

Contra o qual ninguem atacará

Tenho medo dos remédios que tomo

No silêncio do quarto tomo os venenos de sempre

Não sei controlar o quanto

Aprendi desde cedo o materno perigo de overdoses

Não sei contar mentiras que não sejam verdades

Sei apenas ser um todo

Guardo então ao repúdio

O que alguns tramam por privacidade

Não gosto da maioria de vocês é bem verdade

Sou um ser estúpido em meu púlpito de cristal

De nada me acrescentam vossa arte de boatos

Teorizo, relativizo, e probalizo; mas não me conto

Guardo-me em minha luz

Mas também guardo a luz

Preferem o escuro caleidoscópio colorido de som alto

Também não querem estar sob a luz

Espero escondido

Mas espero ansioso

Uma espera pretensiosa

De quem caça presas com armadilhas