MEU QUARTO E EU

Meu quarto

dorme comigo

entre paredes

e silêncios.

Sonhamos juntos

e quase acreditamos.

É cama e sofá,

sala e cozinha.

Mudamos quando

chateamo-nos,

mas voltamos

nas noites

de solidão.

Meu quarto

às vezes se acorda

enquanto durmo.

Tem crises

de insônia

e de existência,

embora negue.

Ele acoberta

sob as cobertas

os coitos proibidos.

Enciúma-se

às minhas escalas

horizontais nos corpos

mas nada confessa.

Sou suas paredes

ele é minha escada.

Subimos e descemos

por nossas depressões.

Às vezes caímos

nas volúpias cegas.

Ele cai de pé.

Sempre me machuco.

Guarda retratos

na porta

e porta-retratos

esconde.

Guarda

coisas íntimas

e intimidades.

Guarda (in) verdades.

Guarda roupas.

Meu quarto

é meu terço de vida

que passa sonhando.

Quando acorda

pede confidências.

Ele tem um criado.

Mudo.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 23/12/2010
Reeditado em 05/01/2011
Código do texto: T2688026