O MURO
O muro, no escuro,
Atesta o fato, abriga o rato
Esconde o ladrão e um bicho papão
À noite é pichado, frases em vão
Pra depois ser lavado
Água, escova e sabão
Com marcas de bola
Lá pelas seis
Nele se apoia um saco de lixo
Com velhos cadernos de escola
De dia, nele mija o cachorro
Mais para a tarde, cansado,
Se recosta um magro gari de gorro
No mesmo lugar, sob o luar,
À noite, depois das dez,
Beijando o amado, ela come pastéis
E a tudo solitário e impassível
Ele assiste com uma calma incrível
Registrando com classe ferina
A absurda vida de um muro de esquina.