E Eu que Pensava...

Que tudo iria durar a intensidade do tempo,

Que iria viver de momento em momento, novo.

Que as estrelas apenas dispunham de brilho,

E que o sonho era apenas um companheiro.

Que em vez de hoje, era melhor o ontem,

E melhor que todos os dias eram as lembranças.

Que deletei passos, e escrevi caminhos

E caminhava na companhia de mim.

Que melhor que “existir” era “ser”,

E que viver era simplesmente uma festa.

Que as decepções eram apenas palcos

Das ilusões deixadas pelo caminho.

Que era melhor registrar em papel

As palavras emudecidas pelo fracasso.

Pensava ainda, que se iam os anéis e ficavam os dedos,

Mas foram ambos embora juntos.

E eu que tentei despedisse dos fatos

Para de tal modo condensar os atos.

E eu que pensava procurar o encontrado,

Decepcionei-me, no entanto não me fiz impotente.

Como cinzas postas em momentos, eu existo.

Respiro um ar seco, inerte, inebriante,

E mesmo na ausência do meu “eu”, enxergo o além do espaço.

O ar que respiro maneja o fluxo de minha consciência, e vou sobrevivendo.

Ao fim de tudo, insisto: e eu que pensava...

Rônet Aves de Matos

Fortaleza-Ce, tarde de 19 de dezembro de 2010.