EM UMA TARDE CHUVOSA

Em uma tarde chuvosa

Caminhava distraído pela praia

E, quando percebí, distanciara-me em muito

De meu local preferido, calmo, junto ás pedras

Num cantinho aconchegante, próximo à rebentação...

Alí, quase sempre eu encontrava-me com um amigo

Bom ouvinte, de poucas palavras, e que inspirava-me

Muita bondade, segurança e esperança

No que muito conversávamos, quase sempre...

Neste recanto, eu ia constante, quando

O meu coração pedia, ficar sós, ouvindo tal

Que extasiado, o barulho do mar, olhar as gaivotas,

Ver os mergulhões seu alimento buscar...

Neste dia, não diferente, lá estava ele

Seu jeito indiferente de ser, cofiando suavemente

Sua branca barba, como a me dizer, sem mesmo que

Algo tenha-lhe perguntado...

Como vais, amigo meu, que se passa em seu coração

O qual vejo entristecido, choroso, amargurado?

Acaso leva-te a tristeza, na vida pensar?

Digo isto porque, igual você, existem tais...

Sentes-tes mal, ficas agitado, passas mal

Acelera teu coração, e a tal da solidão

De tí toma conta, te faz mal

Apaziguai-te, estou aqui, companhia te faço...

Como que a arrancar uma trava d!olhos

Passei a ver melhor o lugar,

Encontrava-me, de joelhos, curvos, a segurar

Uma bela estrela-do-mar...

Éra tardinha de Natal, e eu só

Me encontrava na praia,

Caminhava, sem destino

Em uma tarde chuvosa...

Julio Piovesan