Naufraguemos!

Naufraguemos, que navegar é ócio

Dos navegantes que pecam por rezar

Aos deuses, promessa é negócio

Pois que graça tem navegar?

Naufraguemos, todos ao fundo do mar!

Que a vida pós- morte virá,

E quem sem força, acaso achar

Acalmem os ânimos, assim será.

Caso o cansaço me empalideça

E pela estrada talvez tropece

É capaz também que eu esqueça

E pelo caminho meu andar cesse.

Não se engane navegante,

Que da ausência, embebece

O grito que prende é errante

Sufoca, agoniza e entristece.

Essa carta que nasce sem ser

É um erro comum de pena

Que entorpece ao escrever

E camufla dor em serena.

Mas, não se engane navegante,

Que o erro não é virar o timão

Mas sim olhar o horizonte

E sem força, perder a direção.

Mas a escrita [não] enobrece

faz das dores, poesia

Aos que lêem, enaltece

Ao que escreve, alivia.

Mas não se engane navegante,

Que a direção vem traçada

Se correr, fica ofegante

E perde o fio da meada.

Portanto, precisa anotar

Como se escrever acalmasse

Dê tempo leve ao pensar

Para poder restaurar-se.

Mas, não se engane navegante

Que não há carta além da caneta

Por isso não seja amante,

A carta morre em gaveta.

E mesmo cercado do mar

Aos que cantam pela beleza

Esquecem que ao navegar

Se morre só ou por tristeza...

Naufraguemos!

Ísis Almeida Esth
Enviado por Ísis Almeida Esth em 05/12/2010
Reeditado em 05/12/2010
Código do texto: T2654009
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