Naufraguemos!
Naufraguemos, que navegar é ócio
Dos navegantes que pecam por rezar
Aos deuses, promessa é negócio
Pois que graça tem navegar?
Naufraguemos, todos ao fundo do mar!
Que a vida pós- morte virá,
E quem sem força, acaso achar
Acalmem os ânimos, assim será.
Caso o cansaço me empalideça
E pela estrada talvez tropece
É capaz também que eu esqueça
E pelo caminho meu andar cesse.
Não se engane navegante,
Que da ausência, embebece
O grito que prende é errante
Sufoca, agoniza e entristece.
Essa carta que nasce sem ser
É um erro comum de pena
Que entorpece ao escrever
E camufla dor em serena.
Mas, não se engane navegante,
Que o erro não é virar o timão
Mas sim olhar o horizonte
E sem força, perder a direção.
Mas a escrita [não] enobrece
faz das dores, poesia
Aos que lêem, enaltece
Ao que escreve, alivia.
Mas não se engane navegante,
Que a direção vem traçada
Se correr, fica ofegante
E perde o fio da meada.
Portanto, precisa anotar
Como se escrever acalmasse
Dê tempo leve ao pensar
Para poder restaurar-se.
Mas, não se engane navegante
Que não há carta além da caneta
Por isso não seja amante,
A carta morre em gaveta.
E mesmo cercado do mar
Aos que cantam pela beleza
Esquecem que ao navegar
Se morre só ou por tristeza...
Naufraguemos!