O poeta está morto!
Parece-me estranhamente esquisito
Fazer afirmativa tal
Descrever meu enterro
Já que antes não rimei nenhum funeral.
Poeta pequeno.
Ou simplesmente poeta.
Sempre singelo, com verso sereno
De olhos fechados agora seu poema se completa.
No dia passado
Corria por toda a cidade
Que o tempo ali havia errado
Em sua eterna enfermidade
O poeta deixa saudade
Na varanda com lápis e papel rimas ele apanha
Na verdade contra ele a morte se levanta.
Agora no médico como paciente
Compôs seu verso principal
Rimando o verso prudente
Ali mesmo já fica sozinho no hospital.
Da janela vê sua varanda sozinha
Ali sua enfermidade célere caminha.
De nada valem os esforços
Tão pouco as orações
Agora só sobram remorsos
Que aguçam o coração.
Horas adentro da madrugada
A alma abandona o corpo.
Chega ao ouvido de sua sozinha amada
O poeta...poeta está morto!
A varanda está fria e sombria
Abandonada a noite silenciosa
Acabou-se a poesia
Daquele poeta de rima acalentuosa.
Choram amada e filhos
Rima, poema e amigos
Vivendo em pensamento este triste exílio
E sofrendo com a saudade injustos castigos.
Sai o funeral
Com a viúva de véu
Ruma a igreja do sagrado coração.
Um cortejo angelical
A caminho do céu,
Mais parecia uma feliz procissão.
Oração mais que bela
Quase de cortar a alma
Para aquela rima singela
Ao poeta, louvor, gloria e palma.
Não há quem diga, com toda razão.
Que a igreja do sagrado coração
Nem em casamento ou nas manhãs dominicais
Dia próprio para a salvação
Fica assim cheia e feliz
Com tristes cerimoniais.
O cortejo...
Caminha lentamente
Até o cemitério da saudade
E aos poucos a cidade
Sussurra em voz
Seus versos repetidamente.
Partiu um poeta
Um filho, um marido.
Um ente querido
Que deixou sozinha a poesia
Para compor na vida sua pequena historia...
Sempre na varanda com aquele sorriso
E agora escreve palavras eternas no paraíso.