COMUNIDADE DE SOLITÁRIOS
Egoístas passageiros
desse século de agonias
somos solitários.
Inconsistentes rumores
codificados vagidos da fala humana:
amor e ódio, fio de linha
que navega o barco da vida
sob os desígnios da morte.
Sílaba sonora, solitária pluma
que me conduzes pelas alamedas da alma,
em que calçadas perdi-me?
Ajuntem-me rituais e contemplações:
concha que se assume abrindo mandíbulas
como a querer engolir o sonho.
Ajuntem-se contemplados rituais
em que me assumo: maresia e sustos.
Assomem de tudo, da boquiaberta concha,
as palmas, mãos vazias, compostas
– rito do amor –
passagem breve que fecha
para não dizer o verbo.
E contemplo,
como se de longe me visse,
a emoção sumindo
de contemplações e esperas.
– Do livro FORÇA CENTRÍFUGA. Porto Alegre: Livraria e Editora P. Alegre, 2ª ed., 1979, p. 57:8. Texto e formato revisados.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/2594678