Eu e o Ipê (Silviah Carvalho e Arnoldo Pimentel)

Ouço palavras nos ventos

O canto das ondas no quebra mar
Vejo a lua procurando direção
Como uma câmera a fitar meu coração.
 
Em noites de chuva fina, prefiro ficar na janela
Fugindo talvez, dos tristes olhos dela
Observo as vias, os carros parados
Imagino corações desesperados
 
Gotas cintilantes molham as vidraças
Como cristais de lágrimas a derreter
Vejo no outro lado da rua, o reflexo
Da minha tristeza, o solitário pé de Ipê
 
Suas flores no chão mudam o cenário
Pintam um quadro imaginário
Minha vida, eu e, quem sabe você
Abstrato – impossível crer...
 
Da minha janela vejo tudo que passa lá fora
Da fina chuva pessoas vão se esconder
Na praça balanços giram na força dos ventos
E você é constante nos meus pensamentos
 
Sinto-me preso a raros momentos
Vestígios em mim que ficou de você
Restos de saudades, frágeis lembranças
Que só diminuem minhas esperanças
 
Da minha janela sonho acordado com você
Desço as escadas da vida tentando te encontrar
Ao menos no fim. Triste realidade a vida sem te ter
Encosto-me, divido a saudade com meu solitário Ipê