Pertencimento
Não sou sua
Sou do meu tempo,
Sou dos meus pensamentos
fluídos e contraditórios
Sou da minha genética a tramar estórias
escabrosas sobre minha existência
E, a demonstrar que a resistência é inútil...
Não sou sua.
Não sou adjeta e nem objeto.
Sou sujeito das ações, das omissões
dos crimes, pecados e paixões ...
Mas sou sujeito
da alma de corpo solene
E do corpo de alma solerte
Não há congruência possível em ser e estar
Por vezes sou e, não estou
E, tantas outras vezes, estou e nem sou
Há num mar infindo de reticências
Expressões, sentidos e saudades
Inconfessáveis...
Como da varanda da casa de minha avó,
Das árvores frutíferas do quintal,
Do doce no final da tarde
E, das noites estreladas
Bordando o azul escuro
de brilho e imaginação
Regado de mistério e silêncio.
Há, ainda, lá fora ...
confidências discretas feitas pelas folhas ao
passar do vento
O farfalhar as folhas ainda vivas dependuradas
ao vento.
Há o confessar o alpendre
Ajoelhado discretamente diante da estrada
Suspenso e submerso
no inconsciente
A resgatar resquícios de humanidade
Liberto dos feudos e da posse.
Não sou sua
O pertencimento está perdido
na trama da história, na arquitetura da genética
E no lirismo do acaso...
Justificado mil vezes pelas razões religiosas que aprendi.