Traços no silêncio
Traços no silêncio sussurram seu nome
São loucuras de minha imaginação que o desenham no escuro
Mas vem a brisa numa inveja e desmorona
Meu castelo das cartas que esboçam meu futuro.
Eu pinto das árvores as folhas que caem ao chão
E as colo outra vez para não ver passar o tempo;
Abro as portas para escapar a solidão
Disfarço um sol lá fora no dia do tormento.
Chamo o seu nome no barulho, não há resposta
Só o vento desafina um verso triste
Numa canção de uma só linha
Dizendo que para mim você não mais existe.
Eu pinto, eu canto, componho,
Escrevo cartas que nunca serão lidas.
Eu conto quantas letras há no livro
Para não ver passar a vida.
Ele bate em minha porta, eu não abro
- O tempo -
Há meses que no espelho não me vejo.
Ele me provoca, eu desisto
O tempo manda flores que eu não beijo.
Todo dia faço o mesmo ritual
Chego e parto na hora, ele persiste,
Procuro sua carta, seu aviso, seu manual
Encontro o nada que existe.
Como pude dormir nessa noite de insônia?
Eu costurei na madrugada as cicatrizes
De todas as folhas que despencaram nesse outono.
Pintei no escuro sua imagem, na noite que caia...
E se o tempo for um inimigo?
A saudade apagou meu sono.