A  NOIVA

Senta-se à porta, num banquito,
com as pernas ao sol
para aquecer os ossos velhos e doridos...
Com dificuldade vai separando o feijão
das pedras que o acompanham.
Já tratou das galinhas, regou a horta,
amassou o pão, lavou a roupa...

Lembra-se bem do dia primeiro
quando, jovem noiva aqui chegou.
E como se casou...

Estava prometida ao velho caseiro
que um dia a cobiçou
era ela ainda menina.
O pai, fraco pastor de cabras,
a entregou ao velho, por dinheiro.
Na taberna com os amigos
o bebeu até que se acabou...

Um dia na fonte, onde fora
com o cântaro da mãe,
viu um jovem
por quem se interessou.
Sorriram e coraram...
E por ele se apaixonou...

Fugiram uma noite,
montados na burrita,
e quando o sol nasceu
estavam já na terra dele.
Casaram em segredo
e, cheios de alegria,
entraram na casa da colina.

Anos e anos passaram,
crianças, sopas e gatos,
couves, ervilhas e flores,
de tudo ela tratou.

Um dia ele morreu
e quanto ela chorou...

Casaram filhos, chegaram netos...
Partiram filhos, partiram netos...
A triste solidão chegou
à velha casa da colina.
E a jovem noiva não é mais
que essa velha dorida
sentada no banco e cheia de ais...

Beijinhos,
Teresa Lacerda
Enviado por Teresa Lacerda em 10/09/2010
Reeditado em 11/09/2010
Código do texto: T2490762
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