Cinza
O dia nublado afeta o humor
Um horror ante a possibilidade do sol
O lençol jogado na cama
Reclama a Rosa que deixei na terra das águas
Mágoas dissipadas e solidão profunda no peito
Meu jeito de enfrentá-la é o trabalho
No qual me atrapalho ante a tantas idéias
A velha câmera registra nuvens cinza.
E as cinzas do cigarro amontoam-se no cinzeiro
Quando será o derradeiro trago?
Pergunto-me enquanto estrago um pouco mais o corpo
Louco e aprisionado
No cômodo apertado, mas confortável.
Um amável sentimento no peito
Um perfeito convite para dormir
Um porvir incerto e nublado
Um recado do meu íntimo a mim mesmo
A esmo continuo escrevendo
Enquanto desvendo os meus próprios segredos
Sou brinquedo do destino
Sou o menino que chora e ri
Sou assim triste devido ao tempo
Que ao relento me ensina a resistir à saudade
Que na verdade interior se instala
Na sala que é também quarto e oráculo
Estou só no vácuo do tempo
Estou triste nesse momento
No tormento do cinza que vejo da janela
A passarela que avisto ao longe
É meu horizonte e meu limite
Um convite ao desconhecido
Que meus sentidos repelem
Como um morcego rejeitando a luz
Meu anjo me conduz nas trevas
E na queda eu adormeço
Pereço no terror da noite em pleno dia
E na agonia dessa íntima guerra
Transporto-me à minha terra de sol ardente
Sigo dormente nos próximos dias
E aguardo a alegria de rever a luz que dissipa o cinza.