Pelas ruas de Muzambinho
Pelas ruas de Muzambinho nunca encontrei carinho.
E pelas ruas de Muzambinho sempre me senti sozinho.
Pelas ruas de Muzambinho, eu sentei e chorei.
Pois, um rosto amigo nunca encontrei.
Pelas ruas de Muzambinho, caminho feito zumbi.
Meu corpo ali está, mas meu coração e minha alma está em outro lugar: em qualquer lugar menos ali.
Pelas ruas de Muzambinho eu só conheci solidão.
E meu mundo em lágrimas se desfez.
E eu nunca encontrei um rosto familiar.
Nunca tive um sorriso companheiro.
Nunca me estenderam a mão a não ser para pedir dinheiro.
E pelas ruas de Muzambinho sentei e chorei.
Chorei de saudade de minha vozinha que a mais de vinte dias me espera sentada, sem ter vontade de viver, só esperando duas coisas: minha chegada ou a chegada da morte.
Pelas ruas de Muzambinho, em cada idosa que vejo, eu vejo minha avó, aquela que me deu tanto amor e que ali não está, nem jamais estará.
Pelas ruas de Muzambinho, eu caminho feito zumbi, meu corpo ali está; mas meu coração e minha alma está com minha avó.
Mas, minha vozinha ali não está.
Ela está nos braços de Santa Rita de Cássia.
Ela está sentada no velho sofá ou deitada na cama, já quase sem poder andar, esperando o filho neto chegar, sem saber que no coração dele ela sempre estará, seja em Muzambinho ou em qualquer outro lugar.