FUNDAMENTAÇÃO DO EU SOZINHO
Os dias se passam como nuvens de algodão
Que a cada hora se desfazem e se transformam em novas nuvens,
Deixando para trás aquela sensação de que um dia você
A encontrará novamente.
Que dia é hoje?
Em que época estou vivendo?
Será que realmente me encontro aqui sentado
Digitando meia dúzia de palavras?
Ou será que apenas meu corpo permanece nesse estado
Enquanto minha mente vagueia por infinitos mundos?
Perto de ti eu me encontro tão sozinho,
Na verdade nem mesmo me encontro,
Posto que sou apenas a sombra do que um dia eu fui.
Tenho apenas a solidão como fiel companheira,
Aquela que realmente esteve comigo nos momentos de alegria e de dor,
Que esteve comigo nos momentos em que nem mesmo existiam momentos,
Nos instantes de febre, na ânsia da dor, na espera do inesperado.
O que seria de mim sem ti, ó solidão das noites eternas!
Enquanto eu viver acompanhado, minha vida será sempre de solidão.
Espero ansioso o momento de viver sozinho para deixar de sentir solidão.
Em tudo que eu olho tu estais
No lençol desarrumado
Em dois patros sobre a mesa
Em duas toalhas no varal
Em dois lábios se tocando
Em dois olhos se lamentando.
Eu vejo a solidão no meio da multidão
No copo de cerveja que se seca
Na dor de viver sozinho acompanhado
No amanhã que surge depois da noite fria.
Por um instante eu gostaria de estar sozinho
Por um momento eu desejaria permanecer acompanhado,
Por toda vida eu desejo apenas a companhia do meu sangue,
Do que de mim foi gerado por sangue ou por amor...
Eu não desejo o sonho de uma vida bela,
Eu prefiro a realidade de uma vida amarga,
Pura, inóqua, voraz, desumana,
Do que a hipocrisia de viver sozinho.